O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio da 6ª Promotoria de Justiça de Santa Luzia e da Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais (CPPC), entregou nesta terça-feira, 16 de abril, a imagem de Santa Rita de Cássia à Paróquia de São João Batista, em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte. A santa, que pertence à paróquia desde 1956, estava fora da igreja há mais de 50 anos. A devolução ao pároco e à comunidade foi feita pela promotora de Justiça de Santa Luzia Laura Figueiredo Félix Lara durante uma missa celebrada especialmente para a ocasião.A entrega foi documentada por um termo assinado pela promotora de Justiça, pelo padre José Marcilon da Silva e pela restauradora e historiadora do MPMG Paula Carolina Miranda Novais. Durante o ato litúrgico, também foi devolvido um crucifixo, por iniciativa própria da comunidade com incentivo do Ministério Público. Além de Santa Rita de Cássia, a comunidade ainda procura Nossa Senhora das Graças para completar o acervo que pertence à paróquia e foi separado em 1973, durante uma reforma. “É uma alegria para os paroquianos quando uma peça é devolvida, porque cada fiel tem devoção em um santo. Não tem problema se a imagem é de gesso ou é barroca, o valor é afetivo e de oração”, diz o padre. Ele comenta que as pessoas procuram as imagens pra fazer suas preces. A paroquiana Sandra Maria Gabrich tem lembrança dos santos da igreja desde que era criança. “Eu sempre frequentei a paróquia e minha família também. Esse acervo faz parte da minha vida”, conta, recordando que, no dia da sua primeira comunhão, em 1956, rezou ajoelhada, olhando para os santos. Sandra se diz devota de Nossa Senhora das Graças e que até mandou fazer uma réplica dela, conforme a sua lembrança do passado, já que ela não está mais na igreja.
História
Na década de 1970, a paróquia passou por uma reforma, mas não havia um lugar apropriado para guardar os santos. Foi então que o padre da época distribuiu as imagens entre as famílias que frequentavam o local, com pedido para cuidarem dos bens durante as obras. Segundo um dos livros de tombo, os exemplares foram confiados a “famílias do mais alto respeito”.
Conforme informações dos próprios paroquianos, logo depois da reforma, não houve um movimento para recuperar essas peças. Algumas foram devolvidas de prontidão e outras ficaram esquecidas, foram passando para as mãos de outras gerações, sem saber que eram patrimônio cultural. “A história foi se perdendo com o tempo. As famílias que guardaram as imagens não estavam de má-fé. Com os anos, elas criaram um apego devido à própria devoção. Muitas nem sabiam que as obras pertenciam à igreja”, explica a historiadora e servidora do MPMG Neise Mendes Duarte.
Perícia
A notícia de que a Santa Rita de Cássia ainda estava com uma das famílias chegou à 6ª Promotoria de Justiça de Santa Luzia, somente em setembro 2023, por meio da paroquiana Sandra Maria Gabrich. Ela conta que foi procurada por outra pessoa da comunidade, já com mais de 90 anos, que repassou informações sobre o possível paradeiro da imagem.
A partir disso, foram feitas perícias pelo Ministério Público, que constatou a relevância histórica para a comunidade e que a peça realmente era da igreja. A atuação do MPMG se deu por meio da Promotoria de Justiça e de historiadoras da CPPC, que foram a campo para ouvir paroquianos, sobretudo pessoas com mais de 80 anos, e consultar os registros dos livros de tombo. Outro fato relevante é que, nos pés da imagem de Santa Rita, está gravada uma mensagem de agradecimento da família que guardou a santa e data de 1956. Para as historiadoras do CPPC, isso sugere que a peça foi doada à Igreja de São João Batista como retribuição por uma graça alcançada.
De acordo com a promotora de Justiça Laura Figueiredo Félix Lara, mesmo tendo ficado com a santa por mais de 50 anos, a família entendeu que esse valor afetivo deveria ser compartilhado com toda a comunidade. Ela destaca também a importância da mobilização da própria comunidade para reaver as obras, por meio da Campanha Boa Fé, realizada desde 2010.
Fotos: Eric Bezerra/MPMG